Quem foi Vincent van Gogh?

Gênio, atormentado, pintura em ritmo espiral, muitos autorretratos, barba ruiva, girassóis.

Vincent Willem van Gogh nasceu em 30 de março 1853 em um pequeno vilarejo holandês, era o mais velho de 5 irmãos, o mais novo, Theo é seu companheiro para toda a vida. A família tinha boas condições financeiras, seu pai era pastor em uma igreja protestante, e isso pode ter sido um dos motivos da presença da religião na vida e obra de van Gogh.

Dos 16 aos 23 anos ele trabalhou na galeria de arte Goupil & CO que pertencia a seu tio, onde ele entrou em contato com muitas pinturas, principalmente de paisagens holandesas. Ele foi transferido para Londres, mas não era um bom funcionário já que se incomodava com o funcionamento do mercado da arte e acabava que não vendia muitos quadros, parecia estar mais interessado nos assuntos religiosos ingleses, e então é transferido para Paris, mas logo foi demitido e se mudou para Amsterdam. Lá, Vincent estuda para concursos de teologia, porém acaba não passando em nenhum, e então ele foi missionário em um distrito minerador de carvão na Bélgica e por solidariedade aos mineradores ele vive em uma condição de muita pobreza, a igreja não concorda com a atitude e o dispensa alegando que ele era muito instável.

Ele tinha muita dificuldade de se relacionar. Em 1881, ele briga com o pai e o dali em diante Theo o ajuda financeiramente, e assim ele pôde se dedicar inteiramente a sua arte. Focando suas energias em produzir arte, ele se matricula na escola de belas artes de Bruxelas, mas ele logo irrita com a rigidez da escola, já que não era apegado a modelos clássicos de pinturas. Ele passou um tempo estudando em uma escola de arte que ficava na cidade de Haia, na qual o marido de sua prima era dono, o método dessa escola também não o agradava muito. Por lá, ele se envolveu com uma moça chama Sien, na cidade gostava de pintar a classe trabalhadora, mas assim que seu relacionamento acaba ele volta a morar com os pais abandonando a escola. Vincent também não era um sortudo no amor, todos seus relacionamentos foram conturbados e não muito duradouros.

Na primavera de 1886, ele vai a Paris ao encontro de Theo que morava no bairro de Montmartre. Lá ele teve o primeiro contato com as obras dos impressionistas o que foi muito inspirador. No ateliê do artista Fernand Cormon ele conhece Émile Bernard, Toulouse-Lautrec e mais tarde Paulo Gauguin. Eles eram jovens artistas e juntos a eles frequentavam cabarés em Montmartre.

Mesmo com essa vida aparentemente encaixada, Van Gogh ainda possuía sustos de melancolia, crises de raiva e se isolava, em um desses dias de crise ele chegou a comer tinta direto do tubo. Analisando as obras da época, a impressão é que ele voltou para seu próprio tormento e pintando autorretratos com olhos muito expressivos, muitas vezes profundamente tristes e com uma aparência desleixada.
Não podemos afirmar qual era o real problema psicológico de Vincent, existem inúmeras possibilidades como epilepsia, ele pode ter sido intoxicado pelas tintas ou talvez tenha sido consequência do abuso de absinto, o fato é Vincent não tinha uma boa saúde mental. Hoje existe muito esse estereótipo de artista louco criativo em van Gogh, mas a verdade é que ele não pintava em surto, apenas em clareza mental, e se suas pinturas eram tão intensas e vibrantes era porque essa era sua essência.

Van Gogh achava a rotina de Paris muito dura, e após passar por um inverno muito rigoroso, ele decide mudar-se Arles, uma cidade no sul da França com um clima um pouco mais quente onde ele se vê mais inspirado a criar, as paisagens tinham cores que o empolgavam e inspiravam. Muitas das pinturas mais icônicas de Van Gogh foram produzidas lá.
Cadeira de van Gogh, Quarto de Arles, o Ródano, Café à noite, Terraço do café à noite, foi uma fase muito produtiva para o artista. Apesar da boa fase na produção artística em Arles a solidão segue abraçando van Gogh, e a dificuldade em se relacionar não o deixa conquistar muitas pessoas próximas entre as poucas pessoas que ele conseguiu se aproximar está o carteiro Joseph Roulin, Van Gogh o pintou em um retrato, e fez vários outras telas de seus familiares.

E a orelha?
O episódio da orelha tão famoso foi o seguinte: em outubro de 1888 van Gogh, que não tinha muitos amigos e companheiros, recebeu a notícia de que Paul Gauguin iria para Arles visita-lo, Vincent ficou hiper empolgado ao saber que teria alguém para comentar sobre arte, dividir ideias e ele queria muito mostrar para ele a tela dos girassóis, os dias em que Paul estava na cidade foram muito chuvosos, e os dois se viram obrigados a ficar dentro de casa e por motivos bobos eles acabaram se desentenderam e Gauguin disse que ia voltar para Paris, van Gogh ficou furioso com isso e ameaçou com uma navalha e com a confusão Gauguin se retirou e foi dormir em um hotel. E num momento sozinho e de crise, foi que ele cortou a própria orelha, Vincent quase morreu por conta do sangramento mas conseguiu ficar bem após algum tempo.
O Dr. Felix Rey foi quem cuidou de Vicent após o ocorrido com a orelha, ele se deu muito bem com o médico e chegou a pintar um retrato dele, o médico achou estranha a forma com que foi retratado por van Gogh mas foi educado e levou pra casa, a parte inusitada da história é que sem muito utilidade para a obra, eles a usam para tapar um buraco na vidraça do galinheiro da família, quem iria imaginar que anos depois aquele artista meio estranho se tornaria um dos mais famoso e valiosos do mundo.

Com dificuldade para recuperar seu equilíbrio mental o Dr Rey recomendou que se internasse no asilo Saint Remy para melhorar emocionalmente, também recomendou que ele seguisse pintando pois o fazia bem, e foi à partir da janela do asilo que pintou seu quadro mais icônico Noite Estrelada, um mix de observação e imaginação, algumas analises da obra dizem que as igrejas pontudas na imagem falam sobre a religiosidade que ele já havia tido e o vilarejo, à Holanda de sua juventude.

Depois de um ano internado ele decide sair e ir a Paris de encontro ao irmão, que na época já estava casado e tinha um filho também chamado Vincent, mas foi uma rápida parada, 3 dias depois ele foi para Auvers-sur-Oise, a procura de tratamento com um médico chamado Paul Gachet que também já havia tratado outros artistas, e van Gogh estava contente nas primeiras semanas por lá, até que seu irmão escreveu-lhe dizendo que seu filho havia ficado doente mas já estava recuperado, ele se abalou muito com a notícia e ficou mais triste ainda quando soube que Theo ia a Holanda visitar a mãe e não a Auvers o visitar, van Gogh se sentiu extremamente solitário e profundamente triste, as últimas pinturas feitas por ele retratam esse sentimento.

Em 27 de julho de 1890, Vincent deu um tiro contra seu próprio peito, com uma arma roubada de um conhecido, ele não morreu na hora, Theo chegou à cidade com a esperança de que ele sobreviveria, porém no dia 29 do mesmo mês ele não resistiu e faleceu por conta da infecção que se espalhou rapidamente. Existe uma outra versão em que dizem que duas crianças atiraram em Vincent e ele nunca havia dito para que eles não fossem prejudicados, mas por seu histórico de crises, a versão mais aceita é a do suicídio. Após 6 meses, Theo também morre e hoje eles estão enterrados lado a lado.

Vincent van Gogh é considerado um artista pós-impressionista, suas pinturas são compostas por pinceladas muito carregadas de tinta, organizadas e rítmicas, é um estilo tão intenso que as obras parecem vibrar. Foi um artista solitário e cheio de problemas, é muito triste saber que em vida ele só teve um quadro vendido (O Vinhedo Vermelho) e que muitas vezes duvidou de seu talento, sua genialidade foi reconhecida apenas após a sua morte, hoje diversas marcas ganham dinheiro estampando suas obras nos mais diversos objetos e suas obras estão entre as mais caras do mundo. Em maio de 1990, a obra O Retrato de Dr. Gachet pintado no ano de sua morte foi vendido por US$82,5 milhões.

E aí, gostou? Ficou interessado?
Aqui vai duas dicas de filmes para mergulhar ainda mais na vida e arte de Gogh:
No Portal da Eternidade – neste filme quem vive van Gogh é Willem Dafoe, retratando seus últimos anos muito produtivos em Arles, na França.

Love, Vincent – Este filme foi pintado! Isso mesmo, foram 65 mil quadros pintados ala Vincent que formaram o longa, que acabou ganhando o Oscar de melhor animação. A trama se passa um ano após o suicídio de van Gogh, o carteiro Roulin, seu amigo, vai a procura da família do artista em Arles para entregar uma carta que ele escreveu e nunca foi entregue ao irmão Theo, Roulin segue os passos de van Gogh, e passa por muitos lugares que ele já pintou, o filme é uma verdadeira obra de arte.