Projeto de Vida na escola: o aluno e o novo mundo

Como gestores e educadores podem implementar, na prática, ações e reflexões que possibilitem a esse estudante ser protagonista de suas escolhas – e que elas tenham reflexo na vida desse futuro adulto

Leo Fraiman não gosta de usar a expressão “no meu tempo…”, para se referir a hábitos do passado. Em sua visão, o tempo de alguém é aquele em que estamos vivendo, o agora etc…, ainda assim, o psicoterapeuta e escritor relembra que, quando se formou na faculdade, eram considerados diferenciais para a vida profissional saber falar inglês e ter feito o curso de datilografia.

O que vai ser avaliado como diferencial daqui a cinco, dez anos, ele questiona: alguém sabe? Para o criador da Metodologia OPEE, presente em 1,5 mil escolas e praticada por 250 mil alunos, é um equívoco tratar o futuro como algo já definido. “O amanhã, assim como o mercado de trabalho, não é algo que já está desenvolvido, pronto, mas que é elaborado por cada pequena decisão de um conjunto de sete bilhões de seres humanos no Planeta”.

Inspirar o estudante, de forma protagonista, a entender que uma profissão se escolhe não para ganhar dinheiro, mas para enriquecer o mundo.

Falar de Projeto de Vida na escola, sob a ótica tanto dos gestores quanto dos educadores, está
relacionado a assumir o papel de um mediador, responsável por ajudar o aluno a entender que a cada passo, escolha e pequena decisão estão construindo esse futuro. “Os professores, em suas especialidades, devem inspirar o estudante, de forma protagonista, a entender que uma profissão se escolhe não para ganhar dinheiro, mas para enriquecer o mundo”, explica.

O emocional em sala de aula

Ainda em referência ao mercado de trabalho o que Fraiman tem constatado, de maneira geral, é que as grandes empresas hoje contratam um profissional com base em suas habilidades cognitivas – mas que, tempos depois, demitem esse indivíduo pela falta de competências socioemocionais.

“Há indícios de que teremos de preparar esse aluno para um futuro mais complexo, desafiador, competitivo, disruptivo, acelerado e conectado e, para esse ambiente, será fundamental trabalhar habilidades como empatia, resolução ética de conflitos, trabalho em equipe, resiliência, disciplina, autoconhecimento, equilíbrio emocional, força de vontade, capacidade de analisar dados complexos”, enumera.

Para o autor, o mundo pós-pandemia reserva um desafio ainda maior para esses pilares que
formam a comunidade escolar. “Caducou a era do cada um por si, do levar vantagem sobre o outro e, também, do ensino meramente focado nas habilidades cognitivas”, relata.

A própria superação desse quadro de impacto global, observa, está diretamente ligada a essas propostas – “uma das grandes lições é que a cooperação humana e, em especial, as competências socioemocionais, são os elementos decisivos para a agilidade na busca de soluções conjuntas”,
diz.

Rever sentidos e significados

O psicoterapeuta, que tem forte atuação em canais digitais, com artigos e vídeos amplamente compartilhados nas diversas plataformas, encara o momento como uma “oportunidade fantástica” para a escola rever o seu sentido e significado. Para isso, ele explora alguns insights que podem ser incorporados nesse novo momento do Projeto de Vida na escola.

O professor de Artes que proponha pinturas, esculturas, que aproveite essa dinâmica para que os alunos se conheçam melhor e que, a partir dessas obras, fale sobre resiliência; a disciplina que um ator e um músico precisam ter para alcançar a criatividade.

Ou, então, o professor de História que explore biografias de pessoas, povos e nações que fizeram a diferença com base nos valores que colocaram em prática, inspirando os estudantes a uma atitude transformadora. Também a proposta do professor de Educação Física que trabalhe as perspectivas sobre a importância do sono e da meditação, de mindfulness e da respiração para manter o foco durante o estudo – e que possa explorar carreiras tanto no esporte quanto nos e-sports, por exemplo.

É começar, desde a vivência escolar, a perceber as aptidões, sensibilidades e vocações do aluno para se tornar um adulto mais completo em suas realizações pessoais

Trajetórias pessoais

Com os alunos no centro do processo educacional, cabe aos professores serem os responsáveis por guiar os estudantes em suas trajetórias pessoais. A constatação é da gerente editorial de projetos especiais da FTD Educação, Isabel Lopes Coelho, que complementa: “dentro do processo oferecido pela construção de Projeto de Vida, cabe ao docente essa sensibilidade extra de entender profundamente o aluno em suas questões mais emotivas e latentes, de modo a orientá-lo em suas buscas e pesquisas”.

A gerente ainda aponta um ponto marcante desse processo, que é a sua característica de mão dupla – “o aluno se apoia no professor para dar passos firmes em direção ao seu crescimento, e o professor também se beneficia desse contato”, afirma. No ambiente da escola, o professor é convidado a entender as diferentes aptidões e criar condições para o desenvolvimento pessoal de cada um.

“Trata-se de um trabalho ainda que coletivo, focado no indivíduo – porém, sem abandonar o conceito de autonomia do estudante”, complementa Isabel. Na visão da especialista, trata-se de uma dinâmica que favorece o aluno e que tem por objetivo trazer consciência para suas escolhas, potencial e oportunidades.

“É começar, desde a vivência escolar, a perceber as aptidões, sensibilidades e vocações para se tornar um adulto mais completo no que diz respeito às suas realizações pessoais – que englobam, também, as profissionais”, conclui.

No mesmo sentido, o psicoterapeuta Leo Fraiman comenta que há estudos científicos que relacionam impactos positivos na saúde quando uma pessoa está conectada com um propósito, em equilíbrio emocional e feliz. “Se dentro da sala de aula, formos capazes de inspirar um aluno a pegar a vida nas mãos, a dar a volta por cima, a sermos a boa notícia do dia, nós estaremos fazendo um lindo trabalho de saúde física, mental e espiritual”, conclui.

Artigo retirado da FTD Educação.

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