A facilidade de publicar, seja lá o que for, deu chance para que um conteúdo de baixa qualidade ganhasse amplo espaço
Heródoto Barbeiro
Se correr o bicho pega, se ficar o bicho come. Este é o impacto que as mídias sociais estão provocando no jornalismo mundial e também no brasileiro. Quem pensou que as mudanças iriam se restringir do papel e tinta para o digital, se enganou. Isto foi apenas o início das profundas transformações que a comunicação vive no século 21.
Os meios de comunicação tradicionais ou se aliam com os poderosos Google, Facebook, Twitter, ou correm o risco de perecer. Nem mesmo criar os próprios aplicativos é suficiente nessa competição global. De roldão, as mídias regionais ou locais ganham status mundial, uma vez que podem ser acessadas em Timphu, Yangon ou Taiaçupeba. Do outro lado, as gigantes se capilarizam e divulgam notícias locais, paroquiais ou do quarteirão. No atacado ou no varejo elas levam vantagens evidentes. Confira aí no seu celular. As grandes empresas de tecnologia não se conformam mais em apenas transportar notícias, mas têm de produzi-las. É como se o motor do carro ganhasse autonomia e controlasse o veículo.
Nunca na história da humanidade existiram tantos pontos de emissão de informações e notícias. Uma das consequências é que a censura, explícita ou não, sofreu um duro golpe. Ficou difícil esconder fatos. Alguém publica em algum lugar e em alguma plataforma. Muitas chegam via WhatsApp. A facilidade de publicar, seja lá o que for, deu chance para que um conteúdo de baixa qualidade jornalística ganhasse amplo espaço e se misturasse com o jornalismo que persegue a isenção e o interesse público.
Com isso, cabe ao público separar o joio do trigo e prestigiar o trigo, parafraseando Mark Twain. É verdade que com a grande quantidade de informações circulando, com cópias idênticas e falsas de fotos, desenhos, infográficos, logotipos, brasões e símbolos, a possibilidade de se acreditar em uma fake news aumenta. Hoje elas são produzidas em escala industrial. Nos bastidores dos bits e bytes atuam os algoritmos que buscam selecionar e entregar aos consumidores os assuntos e notícias que mais gostam. Tentam identificar suas preferências de roupas, partido político, local de passar férias ou ideologia.
A inteligência artificial veio para tomar o lugar de muitas atividades, inclusive nas redações. As organizações de notícias tradicionais no futuro podem perder a autonomia, a não ser que haja uma reversão de tendências de consumo de informações. E isto parece que não está acontecendo. O mesmo se dá com o mercado publicitário, responsável pela sobrevivência das empresas como tais.
As empresas jornalísticas contribuem para a sua própria falta de sustentabilidade econômica. Para que um conteúdo ganhe um grande público, é preciso que ele viralize. E, para tanto, é necessário o trânsito pelas plataformas sociais. Assim é fortalecer o concorrente, uma vez que as plataformas ainda não produzem conteúdo suficiente para substituir as empresas tradicionais. Mas estão a caminho. Assim como os filmes em streaming estão solapando a indústria de cinema tradicional de Hollywood e congêneres. Já batem à porta do Oscar. A internet, aparentemente, tirou o controle da produção de notícias de poucos e o transferiu para muitos. Isto até foi verdade no início da era da internet, mas com o agigantamento das empresas de tecnologia, o desenvolvimento da inteligência artificial e a facilidade de acesso às redes através dos equipamentos móveis, tudo mudou. Há a ameaça do domínio do ecossistema jornalístico por um pequeno número de plataformas que exercem uma grande influência no público. Há a ameaça de se ter migrado de um cartel de empresas jornalísticas analógicas para um cartel de empresas digitais. Se correr…