Instrumentalização metodológica: da sala de aula para a sociedade

Que recursos os docentes podem utilizar na hora de reunir os instrumentos necessários para equacionar problemas e direcionar aos itinerários formativos.

Nos caminhos percorridos desde o texto da Base Normal Curricular Comum (BNCC) até a aplicação de seus alicerces no novo Ensino Médio, a busca de um impacto na formação do ser humano é um efeito que se faz sempre presente. A forma como as competências e habilidades vão influenciar esse cidadão do amanhã é uma preocupação constante, e que recebe especial atenção nas propostas de implementação. “Urge que as escolas foquem nesse objetivo maior: formar alunos competentes para viver no mundo contemporâneo”, ressalta a professora e autora de conteúdo sobre o novo Ensino Médio, Paula Marques.

Entender quais serão as possibilidades e recursos aplicados aos estudantes é um ponto de partida fundamental para, então, ouvir dos especialistas, que resultados esperar da instrumentalização em sala de aula – tanto do ponto de vista individual quanto do coletivo, da sociedade.

A instrumentalização

Em estudo disponibilizado pela Secretaria de Educação do Estado do Paraná, intitulado A importância da instrumentalização metodológica para o ensino de ciências, as professoras Clair Santos e Onildes Taschetto delimitam o termo de uma forma que se pode compreender o seu papel na compreensão e aplicação dos conteúdos exigidos. Nele, o conceito de instrumentalização é explicado como uma apropriação de instrumentos teóricos e práticos, com o objetivo de equacionar um problema detectado na prática social.

“A tarefa do professor e dos alunos, nesta fase, desenvolve-se através de ações didático-pedagógicas, necessárias à efetiva construção conjunta do conhecimento nas dimensões científica, social e histórica”, prossegue. Esse tipo de recurso é um caminho importante para estruturar os chamados itinerários formativos, presentes nos currículos do novo Ensino Médio.

Itinerários formativos

Esses caminhos são as unidades curriculares que a rede de ensino vai oferecer ao estudante, com o objetivo de conectar o que ele aprende na escola com o que vai utilizar no futuro – por exemplo, no mercado de trabalho. Como cita a página do Ministério da Educação (MEC), os itinerários formativos podem se aprofundar nos conhecimentos de uma área do conhecimento e da formação técnica e profissional (FTP) ou, então, nos conhecimentos de duas ou mais áreas e da FTP.

De acordo com o Guia de Implementação do novo Ensino Médio, do MEC, as redes de ensino terão autonomia para definir quais desses caminhos irão ofertar – processo que deve envolver a participação de toda a comunidade escolar. Na proposta, a carga horária fica dividida: 1800 horas serão destinadas à formação comum da BNCC e, o restante, para os itinerários formativos.

O diretor de Projetos Educacionais da Maestro Educação, Douglas Dantas, acredita que, para colocar essas propostas em prática, é preciso promover habilidades que vão além do simples conhecimento e compreensão dos conteúdos a partir de teorias, teoremas e leis.

O que esperar das aulas

Na visão de Paula Marques, que é mestre em Língua Portuguesa, é papel da escola contribuir para que os estudantes se reconheçam como sujeitos, com competências e potencialidades para exercer participação e intervenção social. “No bojo dessa questão estão novos modelos de aulas: as baseadas em problemas, as que desenvolvem projetos, as aulas de gamificação, as que usam instruções por pares, as que usam o conceito maker, as que usam o design thinking e tantas outras metodologias que vão transformar o modelo de aula transmissiva”, ressalta.

O ensino da evolução dos conceitos da Termodinâmica em uma aula de Física, exemplifica o diretor do Atitute Educacional, Wolney Melo, deve relacionar os avanços no tema a fatores históricos, artísticos, culturais, sociais e econômicos da Europa Ocidental entre os séculos XVIII e XIX. “Espera-se que os estudantes possam analisar fenômenos e processos, utilizando modelos, fazendo simulações e previsões, propiciando a ampliação da compreensão sobre a vida, a Terra e o universo, refletindo, argumentando e propondo soluções para o enfrentamento de desafios locais e globais”, pontua.

Enfrentar desafios contemporâneos

Para Dantas, da Maestro Educação, é importante que esses encontros incentivem o enfrentamento de novos desafios da contemporaneidade – sejam eles sociais, econômicos ou ambientais –, e a tomada de decisões éticas e fundamentadas. “É importante que os alunos formulem e testem conjecturas e proponham ações de intervenção na realidade, mobilizando e utilizando os conhecimentos matemáticos construídos em sua formação”, diz.

Para isso, sugere, os docentes podem usar ferramentas de softwares e aplicativos para compreender e produzir conteúdos em diversas mídias, simular fenômenos e processos das diferentes áreas do conhecimento, e elaborar e explorar diversos registros de representação matemática. O diretor da Escola dos Saberes, Diego Moreira, vê a BNCC para o Ensino Médio propondo um desafio que mobiliza sistemas públicos, escolas, docentes, famílias e estudantes: “perceber a atualidade e o quanto os conceitos que sustentam a área das Humanidades são fundamentais para a formação integral do sujeito, seja na voltada para o mundo do trabalho, seja na mais aprofundada nas ciências humanas”.

O professor e historiador observa que, diante da formação de professores nas licenciaturas que pouco dialogam com as disciplinas de Didática e Metodologia de Ensino, cabe a esse profissional “aprender a lecionar, lecionando”. Nesse processo, que destaca o papel dos docentes em buscar recursos, métodos, estratégias e plataformas para promover as mudanças necessárias do ensino do cotidiano escolar, Moreira vê, inclusive, a importância da participação de quem administra as unidades. “Nesse ponto o acolhimento dos gestores será essencial para auxiliar o professor na mudança da sua prática”, observa.

Por fim, diante da proposta de ensino que ressalte o protagonismo do aluno e de seu impacto na sociedade, o docente indica a importância da reflexão crítica sobre os modelos em desenvolvimento e, para isso, cita como exemplo uma frase do educador Paulo Freire, em Pedagogia da Autonomia: “É
pensando criticamente a prática de hoje ou de ontem que se pode melhorar a próxima prática.”

Artigo retirada série “Por Dentro do Novo Ensino Médio” da FTD Educação.

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