Esta matéria foi feita para enaltecer um ícone nacional, uma mulher misteriosa, silenciosa, mas com a mente barulhenta, cheia de palavras, de conceitos, de rima, de poesia, de histórias que ela mesma inventava, e de tão reais também acreditava.
Clarice deu apenas uma entrevista, seu português tinha um sotaque ucraniano, seu olhar carregava os mistérios que só uma mente barulhenta e cheia de palavras pode ter.
Este fenômeno se chama Chaya Pinkhasovna Lispector, a nossa eterna Clarice Lispector. Nascida em 1920, na Ucrânia, descendente de Judeus e com o objetivo de fugir da Primeira Guerra Mundial, sua família mudou-se para o Brasil, quando a escritora tinha apenas dois meses de idade. Quando tinha apenas 8 anos, sua mãe morreu, em recorrência de uma sífilis.
Quando Clarice tinha 14 anos, a família que até então vivia em Recife, decide se mudar para o Rio de Janeiro.
Entrou na Faculdade de Direito na Universidade do Brasil, o que foi muito difícil, pois a universidade era muito etilizada, possuindo apenas 3 mulheres alunas na época.
Mesmo com esta formação, Direito nunca foi algo que Clarice quisesse para a vida, ela lia clássicos da literatura e ambicionava ser escritora desde cedo.
Com apenas 20 anos, a vida de Clarice foi marcada por outra perda: o falecimento de seu pai.
Mais tarde, casa-se com um diplomata e inicia uma jornada de morar em vários países, Suíça, Estados Unidos, tem dois filhos, o primogênito tem esquizofrenia e sofre com as constantes mudanças de escola, de amigos, de cultura.
Trabalha em hospital americano, dando assistência a brasileiros feridos na guerra e recebe ofícios assinados por médicos da Força Expedicionária Brasileira que agradecem o serviço prestado.
Então Clarice se separa e volta ao Brasil de barco com os dois filhos, decidida a se dedicar a carreira de escritora. Um adentro importante é que naquela época, ser mãe solteira era tido como algo muito ruim, mas mesmo assim juntou forças e investiu em seu maior sonho.
“Eu escrevo sem esperança de que o que eu escrevo altere qualquer coisa. Não altera em nada… Porque no fundo a gente não está querendo alterar as coisas. A gente está querendo desabrochar de um modo ou de outro…”