Quantos compartilhamentos você fez no seu Facebook nos últimos dez dias? Em todos eles, checou a fonte das informações ou apenas compartilhou porque o conteúdo veio ao encontro de suas convicções? Quanto de sua vida você posta nas redes sociais? E quantas pessoas você imagina que estão vendo tudo isso?
Essas perguntas são muito importantes para todos nós, tanto professores quanto alunos e seus familiares, porque estamos todos, de alguma forma, conectados com a nova era digital, que se caracteriza por um paradoxo: há excesso de informação, mas carência de conhecimento e senso crítico.
Para se ter uma ideia do tamanho dessa contradição, o volume de informação a que temos acesso hoje em um dia levaríamos uma vida para acumular na Idade Média. É uma verdadeira revolução no campo da comunicação, que tem testado nossa capacidade de discernimento e colocado em risco até a liberdade que conquistamos ao longo de séculos de desenvolvimento civilizatório e democrático.
Em entrevista publicada na semana passada na BBC, Martin Hilbert, professor da Universidade da Califórnia e assessor de tecnologia da biblioteca do Congresso Nacional dos EUA, faz um alerta perturbador: o fluxo de dados que circula pelas redes pode nos levar a uma “ditadura da informação”. Sua afirmação se baseia, por exemplo, na diminuição da privacidade. Martin diz: “Sua operadora de celular sabe onde você está graças a seu celular.
O Google também sabe, porque você tem Google Maps e Gmail no seu telefone. E cada transação que faz com seu cartão de crédito é um ponto de dados, cada curtida no Facebook. Inclusive pode haver registros de como você movimenta o mouse ao usar a internet”.
A reportagem da BBC lembra “1984”, um clássico de George Orwell publicado em 1949 e que previa que, na década de 80, seríamos vigiados por tecnologia que estava em todas as casas, guiada pelo “grande irmão” (ou, “big brother”). Já estamos bem à frente da década de 80 e não há um “grande irmão” personificado, mas se fizermos algumas adaptações à ideia orwelliana, veremos que esse fenômeno, de alguma forma, chegou, e “Black Mirror”, série da Netflix que é sucesso mundial, vem corroborar no campo na ficção ao que já acontece, em grande parte, na vida real.
Diante da situação, vem a pergunta: o que fazer?
Talvez um bom caminho seja, primeiro, entender que praticamente todas as sociedades já passaram, passam e passarão por várias transformações (e até revoluções) ao longo da história, e todo período de transição traz insegurança.
Hoje, estamos em meio a um furacão de mudanças no campo da comunicação, que vem transformando nossas vidas em muitos sentidos (basta olhar ao nosso lado para vermos o quanto as pessoas mais olham para o celular do que para o próprio caminho que estão trilhando). O desafio é aprender a entender e se adaptar a esses novos tempos.
O celular, a internet e todas as outras tecnologias digitais são meios e não fins, e quanto mais soubermos disso melhor saberemos usá-los com uma finalidade sem ficar refém deles sem finalidade alguma. Ou seja, precisamos nos educar diante de uma era, em que não estamos apenas nos ambientes reais, mas também no cyberespaço.
Uma importante atitude diante da avalanche de informação dos dias de hoje é checar as fontes. Há muita mentira na internet, e muitas vezes nos pegamos quase compartilhando aquela mentira que combina com nossa opinião como se fosse verdade. Antes de apertar o botão “compartilhar”, precisamos aprofundar um pouco mais e tentar entender, primeiro, de onde aquilo surgiu e, depois, se se trata de informação verídica.
Afinal, a mentira, mesmo que tenha tudo a ver com o que pensamos, não é um caminho válido, nunca! Como educadores, precisamos ir além, ensinando nossos alunos a utilizar, sempre, a verdade como ferramenta de interação, mesmo que ela não os agrade. E, para tanto, é importante educá-los para a era da cybercidadania.
A internet é um novo espaço de convivência e mesmo sendo ela virtual e à distância, continuamos sendo o que somos quando navegamos, com nossos direitos e deveres. Isso significa que uma das mentiras a serem evitadas é a falsidade ideológica.
Criar avatares falsos pela rede não é uma tarefa salutar e, além de tudo, é crime que pode render problemas judiciais a quem os criou. Só esse assunto já rende bons diálogos em sala de aula, focados na responsabilidade que deve caminhar ao lado de nossa liberdade de expressão.
Outros diálogos podem trazer a questão já retratada no início deste texto: as fontes de informação. Sabemos de onde vêm as coisas que compartilhamos? Pois é importante sabermos e, para tanto, basta pesquisar sobre quem a publicou primeiro, sua origem, se tem link para algum site, se este site tem algum responsável (todo site informativo precisa ter um editor responsável). Em seguida, é possível fazer uma busca no Google sobre aquele assunto, para saber se há outros veículos de informação noticiando aquele fato (e assim é possível comparar).
Aliás, por falar nisso, o próprio Google está criando mecanismos para detectar mentiras na rede e deve mensurar, em suas postagens, a confiabilidade daquela informação. Sobre esse assunto, o Nexo, jornal digital, traz uma matéria bem interessante com dicas para detectarmos mentiras na internet, dando inclusive um passo a passo.
Está neste link.
Cada tempo tem seus desafios e, hoje, precisamos aprender a conviver melhor sabendo lidar com tanta informação. Não é uma tarefa fácil, mas se lembrarmos que a mesma internet que traz inúmeras mentiras também tem conteúdos incrivelmente construtivos, educativos e motivadores, basta fazermos o que fazemos de melhor como educadores: despertar o senso crítico e a autonomia diante da realidade da vida.
Texto: Marcos Brogna