A empatia verdadeira tem as cores da generosidade!
Perceber, ouvir e conectar. Essa é uma dinâmica promovida pela empatia que nos ajuda muito como seres humanos que precisam viver em sociedade.
Nosso cérebro desde sempre trouxe uma incrível capacidade de percepção do outro em suas mais diferentes nuances, necessidades e momentos. Trouxemos conosco uma incrível capacidade de navegar em meio às multidões podendo perceber o individual, aquilo que de acordo com a etimologia, é o que não pode ser dividido.
É por isso que assim, como seres únicos, indivisíveis e irrepetíveis seguimos numa constante roda gigante ao lado de quase oito bilhões de passageiros neste mundo tão lindo que nos acolhe.
O exercício da empatia é caminho seguro para evitarmos as armadilhas daquilo que nos prende ao estar perdido em meio às multidões. Uma vez ouvi uma frase que me marcou profundamente como professor.
Ouvi que “Deus não ama todas as pessoas, mas sim cada uma das pessoas.” Imediatamente pensei que assim também deve acontecer com quem tem a missão de educar, onde não devo amar todos os meus alunos, mas amar a cada um deles, individualmente.
Viver um amor que ama por atacado pode parecer mais simples e menos trabalhoso, pois é possível oferecer em escala o mesmo de tudo para todos.
Mas se nos valemos da força da empatia que nos humaniza e empodera a fazer o bem, logo percebemos que o afeto e a educação por atacado podem até apresentar alguns atrativos econômicos em ganhos de escala, porém podem se esvaziar da força da presença, do propósito e do respeito à história única de cada uma das pessoas que alcançamos com o nosso ensinar.
Um grande risco que vivemos neste tempo de relações mergulhadas no líquido jeito de ser de nossa sociedade pós moderna, é enveredarmos por um narcisismo colorido de egoísmo, que contempla o próprio rosto no espelho dos neurônios dos outros, para que estando empaticamente em seu lugar, usufrua daquilo que ele pode oferecer.
Empatia rima muito mais com o compartilhar do que com receber. A empatia verdadeira tem as cores da generosidade!
Apesar da empatia ser inata, ela pode ser treinada e fortalecida por conta das possibilidades da plasticidade cerebral. Relações mais profundas e significativas estão ao nosso alcance, desde que percebamos que empatia não é apenas um simples estar no lugar o outro.
Mas antes é preciso haver um propósito maior que norteie o caminho. A raiz de seus benefícios está em ser capaz de se colocar no lugar do outro, para que dali possamos oferecer apoio, cuidado e respeito. Portanto empatia não é ponto de chegada, mas sim de partida.
A empatia pode ser comparada a um avançado sistema de navegação social. Se não percebo, ouço, me importo e me conecto às outras realidades que perpassam minha história, corro sérios riscos de passar uma existência gerando colisões e desafetos.
O sentido da empatia é e sempre será o bem do outro em seu lugar. Não basta se colocar no lugar de alguém. É preciso que a pessoa saiba disso e sinta seus efeitos por meio de uma prática altruísta. Dentre as principais competências do futuro, além da criatividade, inovação e pensamento sistêmico capaz de resolver problemas complexos, temos também a empatia.
Sem ela será improvável que alcancemos como seres humanos a altura, a largura e a profundidade dos elementos mais fundamentais que nos mantém num ritmo sustentável de geração de vida no planeta.
Respeitar os vários pontos de vista para a busca de soluções que façam sentido, ou mesmo considerar as diferentes perspectivas, nos humaniza de forma a estarmos com os pés na consciência daquilo que é mais essencial no ser humano.
Etimologicamente podemos considerar que no sufixo “patia” existem quatro níveis de relação com o “pathos”, que dentre outras possibilidades significa “sofrimento”. O primeiro é a antipatia. Nela se percebe uma ordem de repulsa do outro enquanto o outro é em nossa história. Melhor seria se fosse banido de nosso caminho.
Presenciamos algo parecido todos os dias em meio à nossa agitada forma de viver. Com essa opção a figura do outro é considerada com estranheza competitiva, como um certo mal a ser combatido, vencido e aniquilado. Aqui podemos provocar sofrimento aos outros.
A apatia está diretamente conectada ao oposto do afeto, que na realidade não é o ódio. Mas o contrário do amor se constitui na indiferença que seca as raízes das relações de fecundidade da vida. Para Viktor Frankl, não ser capaz de sofrer significa apatia. Sofrer ou padecer significa assumir uma atitude perante o que nos acontece, uma atitude por algo ou por alguém.
Portanto, sofrer significa sermos alcançados pelo mundo e atraídos ou iluminados por algo que não somos nós mesmos. Aqui somos indiferentes à dor do outro e não nos importamos com seu sofrimento. Com a simpatia já somos capazes de promover movimentos consistentes que cultivam um campo de relações que lançam raízes no respeito e no significado.
Ser simpático já significa alguma proximidade com quem divide o planeta conosco, porém caso não se tenha uma consciência sobre a necessidade de vivermos uma ética traduzida em ações no bem, podemos cair em armadilhas que em sua última instância não passarão de máscaras sociais que não mudam nada e não alcançam a ninguém. Aqui já nos comovemos com o sofrimento do outro, porém ainda não investimos de forma consistente na construção de possibilidades.
Vikor Frankl também disse que “Uma vez que só o ser humano em busca de sentido é capaz de reconhecer o outro como pessoa, não fechar-se em si mesmo e superar o seu próprio egocentrismo.” Portanto, a empatia é o caminho mais seguro para que possamos desfrutar de uma vida repleta de sentido. Ela é combustível para a realização de nosso propósito de vida! Entrar em ação na direção do outro é o que define se vivemos de fato a empatia ou não.
A empatia pressupõe diligência. Sua maior força se revela quando estamos disponíveis a sair de nosso lugar e ir de encontro ao outro em sua história, afim de que possa alcançar uma posição mais elevada. Para sermos empáticos precisamos estar dispostos a acolher algum sofrimento que o esforço de buscar e encontrar o outro nos provoque.
Empatia não é apenas uma capacidade inata de viver uma forma de conexão com alguém. Empatia existe na verdade para que possamos viabilizar a promoção real da nobreza da vida!
Texto: Alberto Carneiro
Artigo retirado da Newsletter OPEE.